Entre os heróis gregos havia freqüentemente lutas ferozes em que tomavam parte quer os deuses quer os mortais, mas até os imortais achavam que Ares e a família iam mais longe do que seria aceitável. Quando os outros combatiam, achavam que tinham para isso fortes razões, porque lutavam pela liberdade ou para corrigir uma injustiça, embora nem sempre isso ficasse provado. Contudo, Ares parecia combater por gosto, e entregava-se impetuosamente a qualquer batalha sem lhe interessar se era justa ou não. Infelizmente para ele, a maior parte das vezes não era bem sucedido. |
| Devido a tais predicados, surpreende que fosse ele o deus da guerra, em especial porque os outros deuses, principalmente Átena, eram muito melhores guerreiros. Era decerto o seu entusiasmo e temperamento que faziam com que os homens procurassem a sua ajuda quando lutavam, sabendo que ele não se importava muito com a justiça da causa. A irmã, Éris, tinha o mesmo temperamento fogoso, e as suas intrigas provocaram muitas vezes guerras entre cidades e estados. E isso dava força a Ares. Eram ajudados nos combates pelos seus dois filhos e pelos cavalos selvagens devoradores de homens que ele lhes tinha oferecido para puxarem os carros de guerra. Todos juntos, formavam uma família terrível. |
| O único deus que ficava satisfeito com as façanhas de Ares era Hades, porque as guerras freqüentes significavam a entrada no Mundo Inferior de uma torrente diária de jovens guerreiros mortos no campo de batalha. Entre as deusas, apenas Afrodite estava preparada para dominar temperamento tão impetuoso, mas, conforme vimos, o grande deus da guerra ganhou pouco com a amizade dela. |
| No seu tempo, o deus da guerra combateu duas vezes em batalhas contra os exércitos comandados por Atena, muito mais hábil do que ele. E perdeu ambas. Durante a prolongada guerra de Tróia também ,lutou com Atena. Nesta guerra, os deuses tomaram partidos nítidos, combatendo muitas vezes para ajudar os seus heróis preferidos, e outras salvando-os quando pareciam ter perdido a batalha. Átena ajudava os Gregos, Ares estava do lado dos Troianos. Durante uma luta particularmente renhida, Ares foi atacado pelo herói grego Diómedes. Normalmente, um deus era capaz de ganhar com facilidade uma luta dessas, mas Diómedes também tinha a ajuda de um imortal. Átena, escondida num capacete de escuridão, pegou no seu carro de guerra. E, quando Diómedes parecia não ter mais forças, ela carregou sobre Ares, lançando-lhe setas com o seu arco de prata. Muito ferido, Ares voltou, a gemer, para o Olimpo. |
| Ares também andou envolvido em batalhas com os próprios deuses. Dois filhos de Poséidon, Oto e Efialtes, planearam escalar o Monte Olimpo e tomarem pela força o palácio dos deuses. Uma vez tencionavam raptar Hera e Artemisa. |
| Efialtes e Oto eram homens gigantes, com nove braças de altura e de uma força extraordinária. O plano condizia com o seu tamanho, e era nada menos do que pôr uma em cima da outra duas montanhas, Pélion e Ossa, de maneira a poderem usá-las como degraus para atingirem o Olimpo. |
| Empresa tão audaciosa dificilmente passaria despercebida, e em breve Zeus soube dos preparativos que estavam a ser feitos para remover as montanhas rochosas cobertas de pinheiros. Chamou imediatamente todos os seus exércitos e preparou-se para combater os invasores. E Ares, está claro, juntou-se imediatamente à batalha. Em principio pôs-se do lado dos gigantes, mas, quando viu que Zeus os derrotava com a maior facilidade, e que seria feito prisioneiro, desapareceu. Depois de uma longa e cuidadosa busca, verificou-se que ninguém o encontrava, porque os gigantes vencidos o tinham escondido numa jarra de bronze, de onde era impossível sair. Durante trinta meses ficou ali preso, tempo que lhe pareceu interminável, durante o qual emagreceu e ficou cheio de cãibras. |
| A busca tinha sido há muito abandonada, quando certo dia Hermes passou por acaso pelo celeiro onde ele estava escondido. Começava a escurecer e Hermes estava cansado. O celeiro parecia quente e confortável, e o deus deitou-se para dormir sobre um molho de palha. |
| Começava a adormecer quando ouviu umas leves pancadas. Ao princípio não fez caso, porque julgou que eram os rotos a roer o trigo no sótão do celeiro. Mas as pancadas continuavam, e, por fim, sem conseguir adormecer novamente, levantou-se para investigar. E viu a um canto escuro uma enorme jarra, e pareceu-lhe que o som vinha dali. |
| Talvez seja um rato que caiu lá dentro e não pode sair», disse para consigo, e arrastou a jarra para o meio do celeiro, iluminado pela luz da Lua que entrava pela porta aberta. Bateu ao de leve na jarra e, com grande surpresa, respondeu-lhe um bater repetido. Como se tivesse endoidecido, falou para a jarra: |
| - Quem está aí? Para um rato, fazes muito barulho! |
| - Sou eu, Ares - ouviu-se em voz fraca. - Tira-me desta prisão e receberás tudo quanto um poderoso deus pode oferecer. |
| - Ares! Como foi que chegaste a situação tão humilhante? Mas não desesperes, que eu vou libertar-te. |
| E, num momento, Hermes tirou o selo da jarra e levantou-lhe a pesada tampa. Espreguiçando - se e gemendo, apareceu à luz da Lua um Ares magro e cheio de poeira, com a armadura ferrugenta e a barba enrolada nos membros torcidos. |
| E, assim, finalmente, Ares ficou livre para mais tarde voltar a combater, e, sabendo o seu temperamento, podemos ter a certeza de que o fez. |
sábado, 14 de março de 2009
Ares, Deus da guerra
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